sexta-feira, 31 de julho de 2009

Continente em chamas

Foto: Patrick-Andre Perron



Apesar de ser o segundo continente mais populoso da Terra (com 920 milhões de habitantes), poucos conhecem a verdadeira realidade a respeito das guerras civis que até hoje assolam o continente africano. A mídia internacional se move muito lentamente para conscientizar o mundo a respeito das atrocidades cometidas em diversos países.


Depois da segunda Grande Guerra, em 1945, a maioria dos países africanos subjugados pelo domínio colonial viu no enfraquecimento dos países europeus a oportunidade de liberdade. Desde então, um violento processo por independência foi desencadeado no continente e subseqüente a isso, disputa interna pelo poder.


Em toda a história da África, foram milhões de civis mortos em conflitos internos. Entre os países que passaram por maiores conflitos estão: Ruanda, Uganda, Angola, Moçambique, Sudão, República Democrática do Congo, Etiópia, Nigéria, Serra Leoa, Eritréia, Libéria, Algéria, Burundi, Zâmbia e Zimbábue. Dentre esses, a maioria ainda está em conflitos. O resultado é um cenário de desolação, desestruturação da capacidade produtiva, empobrecimento, destruição das estruturas familiares, milhares de órfãos e viúvas e mais tantos milhares de refugiados, distanciados de sua terra, sua casa e seu povo, em campos improvisados.


Na maioria desses países, o ódio ainda é vívido nos olhares. Muitos viram vizinho matar vizinho, irmão matar irmão, perderam filhos ou a família inteira. Mutilados e minas ainda coexistem em Angola, embora mais de 60 mil minas já tenham sido desativadas nos últimos 10 anos. A comunidade internacional tem, a passos muito curtos, buscado promover um processo de moralização e democratização da política nos países africanos. Espera-se que a África passe para um novo tempo de mudança e restauração, embora os países de fora do continente não se mostrem muito prontos a ajudar.


Dois casos: Ruanda e Sudão (Darfur)



Conhecido como um dos maiores genocídios da humanidade, a guerra civil de Ruanda deixou cerca de 800 mil mortos em menos de 100 dias. No ano vermelho de 1994, a disputa entre Tutsis e Hutus pelo poder do país desencadeou uma das maiores manifestações de violência civil já vistas na história de todo o mundo.

Os Hutus dominaram o Governo depois da independência do país em 1967, entretanto oprimiam e usavam de violência com a minoria Tutsi. Revoltados, os Tutsis organizaram uma frente rebelde, a Frente Patriótica de Ruanda e forçaram os Hutus a dividir o poder. Mas a situação estourou quando os rebeldes Tutsis mataram o presidente, o estopim para um dos piores massacres da humanidade. Em algumas vilas, a milícia Hutu que se estruturou contra os rebeldes incitava que Hutus matassem vizinhos Tutsis, e até mesmo obrigavam Tutsis a matar membros da própria família.

O resto do mundo simplesmente assistiu. "Estamos aqui em reconhecimento do fato de que nós, nos Estados Unidos e a comunidade mundial não fizemos tudo o que podíamos para tentar limitar o que aconteceu”, declarou Bill Clinton, em visita a Ruanda (1998).

Em setembro de 1998, a Corte Criminal Internacional para a Ruanda - um tribunal especialmente criado pelas Nações Unidas para julgar crimes de guerra e crimes contra a humanidade naquele país proferiu uma sentença de condenação por crime de genocídio, a primeira em toda a história humana. Aquele tribunal internacional condenou um homem de nome Jean-Paul Akayesu por considerá-lo culpado de genocídio e crimes contra a humanidade, pois o mesmo havia participado e supervisionado tais episódios sangrentos enquanto era prefeito da cidade ruandense de Taba. Resta saber se esse tipo de atitude pode de fato evitar eventos semelhantes no futuro.

Darfur, região mais a Oeste do Sudão, tem passado por conflitos que deixam até mesmo os mais experientes diplomatas e especialistas confusos e perplexos. Depois de diversas tentativas de negociação de paz frustradas, ainda não teve fim a crise que já matou cerca de 400.000 civis e deixou 2 milhões de refugiados.

O Sudão já passou por duas guerras civis (disputas entre Sudão do Norte muçulmano e Sudão do Sul cristão e animista) e enfrenta conflitos internos desde sua era pós-colonial com início em 1956. O caso de Darfur, entretanto, não é entre essas duas forças religiosas e econômicas distintas, mas de grupos rebeldes darfurianos contra o governo sudanês e caracteriza-se mais por um conflito político, até o momento sem solução.



Revista MCMPOVOS 7a Edição

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