Por Liliana Peixoto
(aluna da MCM Escola que passou um período de transcultural no Nepal)
Depois que cheguei ao Brasil, há exatamente uma semana, quase fui atropelada por duas vezes. É porque, de maneira distraída, atravessei na frente de carros achando que eles iam parar. Então depois do susto dei uma risadinha lembrando-me das palavras da Eliza: “Não corre!!! Se correr, o carro bate... se andar, carro pára!”.
No Nepal é assim! Como em qualquer outro lugar, as ruas estão cheias de carros, vans, motos, bicicletas, mas nesse caso, tem também alguns poucos ônibus, rickshaws, vacas e gente, muita gente “cortando” tranquilamente por entre os carros, sem o menor temor de serem atropeladas. Além dos manifestantes. Todos os dias? Sim, ou pelo menos, praticamente. São dezenas de pessoas com alto falantes e placas protestando pela falta de energia ou água, política, atropelamentos, ou qualquer outro motivo que não agrade. Tudo acaba em “bhanda” (protesto).
Para organizar um pouco as coisas, eles contam com um instrumento utilizado por todos: a buzina. É uma sinfonia ensurdecedora que conduz a todos. É comum ver na traseira de veículos maiores um adesivo dizendo “Por favor, buzine!”. E ninguém hesita cumprir com a solicitação. Um dia tomei um susto enorme quando ouvi uma buzina de caminhão bem atrás de mim e quando olhei... era uma bicicleta!
As vans são o transporte público mais comum nas ruas de Kathmandu, a capital. Dentro delas, mais uma vez a física é desafiada e vencida. Onde tem lugar para um, podem ir dois e onde três se acomodariam, cinco se apertam sem reclamar. O tuk tuk também faz sua vez. Em um espaço de 1 X 1,5 metros, 12 adultos vão sentados com crianças, compras, botijões de gás, e às vezes, cabritos e galinhas. E nos táxis é absolutamente comum o taxista dar carona para alguém sem pedir sua permissão, e isso não dá direito a desconto no final da corrida.
Uma bagunça aos meus olhos brasileiros, mas eles se entendem muito bem. Durante 11 meses, nunca vi uma briga sequer no trânsito! Eles não consideram “barbeiradas” motivos justos para travar uma discussão com um irmão e lá todos são irmãos ou irmãs, não existe, por exemplo, a palavra “primo” na língua Nepale. Mesmo aqueles que você não conhece devem ser tratados como Dai (irmão mais velho) ou Didi (irmã mais velha) e Bhai (irmão mais novo) ou Bhoini (irmã mais nova). É uma questão de respeito. O respeito dita muitos comportamentos na sociedade nepalesa: pelos mais velhos, pela terra que tem “cada palmo cultivável”, literalmente. É comum ver arroz plantado em jardins ou quintais. Até na língua há várias formas de falar a mesma frase, mudando pronome e verbo de acordo com a pessoa a quem você se refere.
Respeito, aliás, é uma das maiores lições que aprendemos vivendo lá. Respeito quanto às diferenças. Os nepaleses comem com as mãos. Uma vez um missionário perguntou a um rapaz se ele não achava anti-higiênico e ele respondeu que tinha nojo era de colher, porque “com minha mão como eu, mas com isso, qualquer pessoa come”. Tudo depende de como você vê.
Publicado na Revista MCMPOVOS, Ano 1, 9a Edição
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